Isidoro Gomes (IEEE)
Uma das formas mais populares de mobilidade social e económica não apenas nos países desenvolvidos, mas também em países em vias de desenvolvimento (como, por exemplo, a Índia, a China e o Brasil) é o EMPREENDEDORISMO.
Motivação, persistência, conhecimento do mercado e do sector onde se quer actuar, capacidade de investimento, rigor e dedicação são os factores determinantes no processo de criação de uma empresa... Olhemos então para o sector onde se quer actuar. Sabe-se que existem diversas categorias de empreendedorismo. Por oportunidade, social, intergeracional, necessidade… entre outros, e por fim, o de Base Tecnológica.
Presenciamos a criação de duas instituições para a promoção de empreendedorismo em Cabo Verde: o Centro de Incubação de Empresas de Serviços e Tecnologia e a Agência para o Desenvolvimento Empresarial e Inovação, a meu ver, cumprindo escrupulosamente as suas missões o país ganhará novos empreendedores e fortalecerá a compepetitividade interna. No entanto, uma única incubadora de empresas e centralizada será de longe insuficiente para um Estado que quer incutir na sociedade o modelo de auto-emprego. Mas aqui o poder local poderia e deve ter outra visão das coisas, por exemplo, criar sinergias conjuntamente com outras organizações/associações de caris empresariais no sentido de alavancar propostas de cidadãos em projectos activos. Ninguém duvida das suas implicações positivas para essas comunidades.
Uma pequena parte das pessoas nasce com capacidades empreendedoras inatas/intrinsecas, enquanto outra parte pode ser influenciada pela educação e pela cultura, isto é, por factores extrínsecos. A educação e a cultura podem fazer com que a fracção de pessoas que se tornem empreendedoras aumente, podendo, porém haver mais pessoas a serem influenciadas. A verdadeira questão de ser ou não empreendedor, reside em averiguar quem é o inovador e se este nasce ou pode ser formado! Não temos estudos em Cabo Verde que nos indique a percentagem de cabo-verdianos que gostariam de ter o seu próprio negócio e que factores (e.g. medo de falhar, desejo de estabilidade financeira etc.) os distinguem dos africanos do continente e outras regiões do globo.
Estado + Universidade + Indústria = Organizações híbridas, devendo partilhar entre si o conhecimento e recursos de forma intensa. Em média, 19% dos novos produtos e 15% dos novos processos das empresas de bens manufacturados dos EUA são directamente baseados em investigação académica, 40 e 47%, respectivamente em indústria de alta Tecnologia, como é o caso da indústria farmacêutica, e em desenvolvimento de instrumentos e processamento de informação. Cabo Verde vem conhecendo vários micros e médias empresas de negócios baseados em IT (Information Technology), mas com duas particularidades: primeiro, a maioria dessas empresas são de capitais extrangeiros, segundo, nenhuma delas proveio de um spin-off (empresas criadas a partir de centros de pesquisas, universidades ou empresas-mães a partir do conhecimento e tecnologias produzidos no seu dia-a-dia).
As Instituições de Ensino Superior com formações viradas para as tecnologias nacionais devem começar a apontar as suas baterias para outras direcções: criação de empreendedores e com isso oferecendo uma definitiva contribuição para o desenvolvimento da sociedade. Olhemos para o study case do Massachusetts Institute of Technology (MIT): este estabeleceu um centro de formação e promoção de empreendedorismo entre estudantes, investigadores e staff. O centro baseia-se na seguinte filosofia: “Os cientistas do MIT, engenheiros e gestores acreditam que isto não é suficiente para inventar um novo produto, conceito ou tecnologia. A medida de sucesso é a comercialização global e aceitação generalizada das suas inovações”. Ora, de acordo com o MIT, antigos alunos e professores fundaram mais de 5.000 empresas. Estas empresas empregam cerca de 1.1 milhões de pessoas e têm umas vendas anuais de mais de 230 bilhões de dólares. Cerca de metade destas empresas foram fundadas por pessoas com licenciatura há menos de 15 anos; uma em cada seis empresas é fundada por pessoas com licenciatura há 5 anos. Algumas das empresas criadas no seio do MIT incluem gigantes como: a Intel, Bosc, 3Com, Texas Instruments, HP ou a Gillet. Se uma única universidade consegue produzir spin-offs que geram receitas cerca de 118 vezes superior ao PIB de Cabo Verde, será que não é possível que as Instituições de Ensino Superior do arquipélago, em conjunto terem 0,1% do desempenho de MIT? Bastaria isso para que o PIB cabo-verdiano aumentasse cerca de 9%.
Nos últimos anos os países desenvolvidos transitaram de uma estrutura dominada por indústrias transformadoras tradicionais para uma estrutura dominada por indústrias ligadas às novas tecnologias, “Entrepreneurial Economy”. As novas empresas de base tecnológicas (NEBT’s), nas economias em vias de desenvolvimento, dentro do grupo dos PME’s, representam mais de 70% de novos empregos (em termos líquidos) criados em cada ano; são responsáveis por 95% das inovações “radicais” (de grande impacto nas economias). Um Start-up (uma ideia inovadora que evolui para uma empresa de grande crescimento) de sucesso está inequivocamente ligado às seguintes qualidades: liderança do processo pertencente ao empreendedor responsável pela ideia de negócio; complementaridade de talentos e trabalho em equipa de cada um dos membros envolvidos no novo negócio; capacidade para obter, gerir e controlar recursos; capacidade financeira para desenvolver a oportunidade de negócio, entre outras.
No entanto, embora a infusão de criatividade e inovação trazida pelas novas tecnologias de informação e pelos desenvolvimentos das ciências tenha resultado numa proliferação de novos esforços empresariais, esta revolução tecnológica deu também origem a um elevado número de insucessos. Recorda-se que, de facto, a grande maioria das novas iniciativas empresariais de base tecnológica falha devido a uma insuficiente avaliação da oportunidade de negócio, criando dificuldades a diferentes níveis (e.g. inadequação do bem/serviço à procura/mercado; concorrência forte que pode facilmente “roubar” as ideias e clientes à nova empresa, etc.), realidade essa bem patente no arquipélago.
Fonte:http://www.ciclodetertulias.com/index.php?option=com_k2&view=item&id=112:cabo-verde-e-o-empreendedorismo-de-base-tecnol%C3%B3gica&Itemid=162
Nenhum comentário:
Postar um comentário